Tal como o Earl Hickey, de My Name is Earl, eu também tenho uma listinha de coisas a fazer por aqui... mas, apesar de compartilhar com ele minha crença em karma, minha listinha aqui é um pouco diferente...
Quando cheguei ao Japão tinha uma listinha mental de coisas que gostaria de vivenciar que não havia aproveitado quando estive por aqui pela primeira vez...
Com 15 anos, tudo o que eu queria era andar de bicicleta pela cidade pra ver lugares "bem japoneses", comer no McDonald's (porque era barato, gostoso e não corria o risco de comer nada esquisito), conhecer lugares como Tokyo e ir em um monte de shows...
Andei bastante de bicicleta pelas ruas de Kawagoe, em Saitama... era uma delícia! Pena que naquela época não tinha internet, meu inglês era péssimo e meu japonês não dava pro gasto! Então andava pelas ruas e não tinha idéia do que era tudo aquilo... Depois é que fui saber que aquela cidade tem um valor histórico muito importante, com várias construções do Período Edo preservadas até hoje e templos budistas importantes também. Quem sabe um dia eu volto lá, não é mesmo?
Até tentei comer umas coisas diferentes mas, logo nos primeiros meses fui apresentada ao natto e ao wasabi, o que, sem as devidas explicações, tornam as coisas um pouco difíceis! Natto (soja fermentada) eu não como até hoje, porque o cheiro e a aparência não me agradam... e wasabi (raiz-forte) eu descobri depois que é como um tempero, pra ser consumido bem moderadamente... e hoje eu até gosto... mas quando vi uma colega colocar na boca e chorar... foi assustador e não tive coragem de experimentar por um bom tempo... naquela época a gente não sabia que era pra colocar só um tiquinho junto com o sashimi... a pobre menina comeu uma colherada! Por isso minha adolescência no Japão foi mesmo à base do bom e velho fast-food.
E, pra completar, só pude ir em dois shows aqui no Japão. O primeiro, fui porque queria ir em um de qualquer jeito e o primeiro que apareceu na frente foi o show do Bon Jovi... naquela fase banquinho-violão-Bed-of-Roses do Bon Jovi... O que eu mais gostei não foi nem do show... foi ter que pegar trem pra ir até Tokyo, no Nihon Budoukan, com mais duas amigas... as três sem saber praticamente nada de japonês, sem nunca ter andado de trem e muito menos andado em Tokyo... foi uma experiência bacana e muito estranho ver aquele monte de gente com cara de roqueiros, com roupas de couro e tachinhas e cabelos rebeldes assistindo o show sentadinhos e comportadinhos! Nunca imaginei que um show de rock poderia ser assim! (o cara da minha frente estava sentado e fazendo picnic enquanto assistia ao show! Parecia que ele estava no sofá da casa dele!!!) Felizmente não nos perdemos nem na ida nem na volta... foi tranquilo... e me fez ficar mais confiante pra viajar. O outro show, aí sim, fui porque era o show da minha vida! Assisti U2 no Tokyo Dome, Achtung Baby Tour... Só gostaria de ter assistido de um lugar mais próximo... aquele Tokyo Domo é gigante e ficamos na arquibancada... Mas devo o show ao meu irmão... gosto musical é (ou era, não sei mais dizer) uma das coisas que nós dois mais compartilhamos em comum.
Enfim... depois que voltei ao Brasil, sempre pensei comigo que gostaria de voltar ao Japão mas desta vez vivenciar mais o país, a culinária, os costumes... E estes 3 meses em Shiga Kogen certamente me deram oportunidade de vivenciar isso tudo.
Aqui fui obrigada a comer comida japonesa praticamente todos os dias... e por comida japonesa quero dizer:
-café-da-manhã: arroz branco-sem-tempero-frio; missoshiro (sopinha rala temperada com pasta de soja) e alguns acompanhamentos, aqui invariávelmente: natto, ovo (mal) frito; bacon (mal) frito e moyashi.
*infelizmente achei que não era muito saudável comer essas frituras todas as manhãs e enjoei de só comer arroz e misshoshiro... então resolvi pular o asagohan (asa=manhã/gohan=arroz ou refeição) o que pra mim significa bem isso mesmo, o arroz da manhã... porque dizer café-da-manhã me faz lembrar de pão francês fresquinho com manteiga e café, chá ou chocolate quentinho... ai que saudades...) mas, como o objetivo aqui é vivenciar, estou satisfeita... 3 meses são mais do que suficientes!
-almoço: arroz branco-sem tempero e acompanhamentos... como estou em um hotel, não tem como cozinhar por aqui... e como a tiazinha que faz o meu almoço é preguiçosa e não dá a mínima pra minha saúde ou se eu já enjoei ou não do rango, costuma ser congelados... o que significa comer a mesma coisa durante uma semana... por exemplo: arroz com uns dois nuggets... se eu achar isso no meu almoço, sei que esse será o meu cardápio pela próxima semana... até o pacote de nuggets acabar e aí comer arroz com croquetes por mais uma semana... e na falta dos congelados, arroz com uns dois pedaços de omelete e assim vai.
*essa parte da minha estadia aqui foi totalmente desconsiderada porque eu sinceramente acredito que isso não faz parte de uma dieta japonesa normal!
-jantar: essa parte do dia era uma caixinha de surpresas... arroz e missoshiro era sagrado... e como acompanhento, tinha dias muito bons e dias traumáticos. Como exemplos felizes, pode ser a fatia de salmão frito e tofu com cebolinha e shoyu de ontem ou o hambaga (hamburger) com um molhinho de tomate gostoso que apareceu no prato vez ou outra... pode ser hilário, como o croquete de carne que, de carne não tinha nem o cheiro; ou pode ser realmente triste, como o peixe frito de um outro dia... um peixe parecido com sardinha, frito, inteiro... totalmente inteiro... inclusive com as entranhas! Até hoje não descobri se isso é normal entre os japoneses, ou entre os habitantes desta região ou só no gosto duvidoso dessa tiazinha pra servir "peixe recheado".
Fora isso, experimentei umas coisinhas diferentes aqui e ali, como moti recheado com chá verde e morango, gobou karintou (um biscoitinho com sabor de bardana, shoyu e gergelim... e não é que é gostoso!), ume-shyu (uma bebida alcólica de ameixa), neve com leite condensado (como se fosse raspadinha); pão de missô... tantas coisas diferentes que agora nem consigo mais lembrar!
Morando em hotel, aprendi a ser mais flexível... tive que me adaptar aos horários das refeições aqui, horário para banho e dividir quarto. O banho é outro momento bem japonês. Aqui não tem chuveiro no quarto e tomamos banho no modo mais tradicional... banho coletivo! No começo é estranho, mas logo a gente acostuma... a região em que estamos é bem conhecida como uma região de águas termais... e aqui acabei acostumando a ficar de molho nas águas quentinhas do onsen coletivo... vou sentir falta.
Além disso, algumas outras coisas que pude vivenciar aqui que valeram a pena são experiências que morar num ski resort pode proporcionar... como:
- aprender a esquiar, é claro! Gostei bastante! Mais do que esperava... espero que tenha a oportunidade de voltar a esquiar algum dia.
- Conviver com a neve... sempre fugi de morar em lugares com neve... mas adorei conviver com a neve... ver a neve cair e se acumular, o tempo mudando aqui constantemente, as árvores branquinhas...
Nossa, ler parte do seu post foi como se eu revivesse parte da minha vida... por quê será né? ^-^ Você só se esqueceu de se referir ao Sprite nos passeios de bicicleta...
ResponderExcluirJá o seu bentô, fiquei com dó...eu até deixo um pacote de congelado aqui pra levar quando não tenho nada, mas todo dia a mesma coisa? Isso que é falta de consideração! Ah, e o peixe com tripa e tudo, não é algo só dessa região. Dependendo do peixe ele é assado assim mesmo, e alguns tem até a ova dentro. E você comendo coisas como doce com machá é novidade mesmo e umeshyu eu também gosto!! Já neve com leite condensado, não é só ideia de japoneses. O grupo Fat Family quando vieram ao Japão, e foram em um local com muita neve, fizeram isso também!
E pra quem é friorenta... tirou de letra essa temporada! Até me fazendo ficar com vontade de experimentar um passeio ou temporada assim!